Em qualquer pessoa há uma necessidade inerente de se fazer breves paradas para
respirar em meio ao trabalho desgastante. É comprovado que paradas programadas durante
a jornada de trabalho, por mais curtas que sejam, reduzem o stress e relaxam a mente. Isso
faz com que voltemos depois para o trabalho com uma energia a mais nas baterias. Nem
sempre todos percebem isso. Ontem a tarde, após entregar mais um trabalho, decidi parar
um pouco para descansar, pois estava exausto. Hoje de manhã a pressa retornou. Mas não
com a mesma intensidade pois são trabalhos com prazos flexíveis que estão na ponta da fila
agora. Devido a essa pequena folga, decidi ao invés de só levar a Nirian ao trabalho, passar
no centro da cidade para comprar uma vasilha. Isso mesmo, só uma vasilha.
Entrei em uma loja de miudezas que fica no início do calçadão da cidade. Comecei o
observar os dispositivos das peças que estavam a venda. Tudo me chama muito a atenção.
Desde sistemas de encaixe entre caixas a formatos de buchas de parede. Tudo me desperta a
curiosidade. Ao sair da loja com o objeto já comprado, iria me dirigir para o carro para retornar
as urgências que nos chamam a todo momento. Não sei lidar com a cobrança de uma forma
madura. Devido a isso, julgo que esse cobrador imaginário é muito maior para mim do que
para qualquer empresário. Mas hoje pensei em deixa-lo lá, me chamando até se cansar ou
notar que hoje não estou sendo afetado pelos seus métodos.
Na saída da loja me deparei com o calçadão como sempre foi, um corredor plano com
lojas em ambos os lados. Pessoas vem e vão, com sacolas em mãos e com pressa, na maioria
das vezes. Mas eu não estava. Mesmo vendo as pessoas andando em um ritmo como se
fossem perder um compromisso, não fraquejei. Sei que isso é contagioso em grandes cidades
mas eu hoje parecia estar com um escudo que me protegia de tudo.
No meio do caminho, um rapaz me chamou a atenção. Eu, no primeiro momento, decidi
ignorá-lo. Isso porque ainda estava no meu subconsciente o tic-tac que acompanha o passo
e faz com que mesmo eu não tendo pressa, não pare em locais não previstos. Mas foi só no
primeiro momento. Vi que o rapaz era muito atencioso e falava de uma forma calma e suave.
Ele era um monge que se chamava Gouranga. Achei muito interessante esse contato pois
eu nunca havia conversado com um monge em minha vida. Ele me apresentou alguns livros
que trazem aos mais leigos e interessados princípios que regem a fé e filosofia em Krishna.
Quando peguei no livro, que era pequeno a ponto de caber em uma de minhas mãos, percebi
que era um momento de conhecimento e abertura que Deus estava colocando a disposição
de meus sentidos. Ficamos conversando por cerca de uns quinze minutos. Falamos sobre
espiritualidade, leitura e as superficialidades do mundo hoje. Ele gostou de ouvir sobre a
separação que faço em meus estudos durante a semana, deixando o mais importante e para
o domingo, dia do estudo voltado a Deus. Durante a conversa fiquei curioso sobre como ele
havia escolhido aquele caminho. Ele explicou que já está em devoção há cerca de cinco anos
e que desde mais novo, Deus sempre esteve presente em sua vida.
Houve um momento em que a conversa entrou no campo dos sinais que Deus nos
concede dia após dia. Aqui cabe uma reflexão muito significativa para mim: sempre recebo
os sinais Dele de coração aberto. Por isso acabo percebendo muito, ao contrário de céticos e
desacreditados que, com o coração fechado para Ele, dão crédito de tudo ao acaso. Gouranga
me contou sobre um caso no qual ele presenciou esse sinal em um pedido que havia feito a
Deus certa vez, e que fora atendido de imediato. Ele deveria ter muito mais testemunhos para
revelar ali, mas não nós prendemos nesse assunto a fundo, como não também nos outros.
Falar sobre os sinais de Deus em nossas vidas é algo de extrema importância para quem os
percebe. Acredito que quanto mais os vemos, mais percebemos que não há um caminho
simples já traçado a todos, mas Deus abre as fendas nas rochas nas direções exatas, para
que nós como fluido, escorramos por esse caminho. E quanto mais nos aproximamos desse
estado, mais seguros estamos de que essa montanha de rochas chamada mundo é apenas
uma parte ínfima do caminho a trilhar. Creio que Deus rachou uma fenda hoje, me conduzindo
através dela como água para ter essa experiência em apenas 30 minutos de minha caminhada.
No fim, após uma breve e rica conversa com Gouranga, percebi que o livro que eu havia ganho
de presente era muito maior do que eu presumia, e que pequeno era apenas a ponta da corda
que junto com o livro, ele havia me dado. Se eu puxá-la, abrirei muitas possibilidades de
conhecimento em cada pequeno fio que decidir estudar.
Enviado por Thiago, o comprador do livro,
Seu servo, Rasarnava Gauranga Das.

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