Terminando o sankirtana no centrinho da Lagoa em Florianópolis, já próximo
da meia-noite, Ekachakra Nitai me diz para ir pro carro e mudar o campo de
sankirtana. No caminho, um casal me acena de um banco de ônibus. De longe,
confundi-os com bêbados que às vezes querem sugar nossa energia nessas
horas da noite. Mesmo contrariando minha primeira impressão fui até eles e ao
me aproximar mais o rapaz imediatamente me lança a pergunta:
– “Você que é Hare Krishna, me diga uma coisa: por que é que quando eu
canto Hare Krishna eu me sinto tão leve? Por que é que eu me sinto tão bem?”
Surpreso, expliquei sobre o poder do maha-mantra de limpar nosso coração
e mente e de nos conectar com nossa consciência original, a consciência de
Krishna. Eles pareceram compreender muito bem, e começaram a fazer várias
perguntas sobre o hinduísmo, sobre os Vedas e sobre Vishnu e Krishna.
Ainda meio levado pela primeira impressão eu estava um pouco exitoso em
mostrar os livros, mas apresentei todos durante a conversa. Ele, Fábio, me disse que não
tinha dinheiro, que estava numa situação difícil. Consenti, mas ainda estava curioso para
saber de onde eles tiraram tal gosto por cantar Hare Krishna. E então Fábio me contou
essa história:
Acontece que ele cresceu em Porto Alegre, e nos idos dos anos 80, o
templo da ISKCON ficava no Bairro Bonfim, próximo aos bares de Rock-’n’-
roll, e ele, com cerca de 14 anos, certa vez ficou perdido entre esses bares, e
estando, segundo ele, “muito louco”, procurou abrigo no templo. Os devotos
o acolheram, ofereceram banho, prassada e um lugar para dormir, e por força
das circunstâncias, ele teve esta experiência transcendental. E desde então ele
foi desenvolvendo essa relação com o mantra e nunca mais se esqueceu dos
devotos. Ele estava emocionado.
Eu também me emocionei com a história e mostrei o Gita explicando que
no caminho de Krishna, o menor avanço nunca se perde (nehabhikrama-naso ’sti
B.G. 2.40).
Nesse momento a esposa de Fábio perguntou:
– “Qual é o valor desse livro?”
Eu disse que as pessoas tem ajudado a partir de R$50,00.
Ela abriu a carteira, tirou uma nota de R$100,00, pegou o livro da minha
mão e o entregou ao Fábio dizendo: “Presente!”
Nós três sorrimos felizes!
Seu servo, Mahananda Murari Dasa

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