Nityananda Raya Dasa (Nilson Gontijo) é formado em História, especialista em filosofia e pós-graduando no “Diálogo entre ‘Teologia, Ciência e Humanidades’”. Juntou-se à ISKCON em 2004 e, desde então, residiu nos templos de Belo Horizonte, Ashram Vrajabhumi e Mayapur (Índia), onde realizou o 1° módulo do curso Bhakti-vaibhava pelo Mayapur Institute. Atualmente é facilitador do LAPIDAR BH, colaborador do Clube do Dharma, da equipe administrativa da ISKCON BH e da Secretaria de Sankirtana da ISKCON Brasil.

Carta de Sankirtana: Qual a importância de distribuir livros?
Nityananda Raya Dasa: Do ponto de vista da tradição, é importante distribuir os livros de Srila Prabhupada para possibilitar que inúmeras pessoas se conectem à sucessão discipular pelo seu elo mais puro, mais forte e mais relevante no mundo moderno, que é o próprio Prabhupada, e sabemos que é por meio do contato com um devoto puro (no caso, com as palavras de Prabhupada) que se obtém bhakti.

Institucionalmente, é importante distribuir os livros de Prabhupada para manter viva a memória de que ele é o eterno mestre de todos nós, e para revelar à sociedade em geral o escopo da ISKCON, sua origem, tradição, filosofia, teologia, fidedignidade, etc.

Socialmente, é importante distribuir os livros para ajudar a sociedade, por meio do oferecimento de um caminho alternativo, para que ela possa progredir rumo a um estilo de vida cada vez mais pautado por valores espirituais profundos e verdadeiros,
até o ponto da revelação da personalidade de Deus, que é uma contribuição única do
vaishnavismo;

Do ponto de vista pessoal, é importante distribuir os livros para colaborar com o serviço do mestre espiritual, desde que todos os gurus da ISKCON são servos de
Prabhupada e, assim, satisfazer o desejo de Krishna, que é o propósito do caminho
de bhakti. Ao se ocupar em distribuir os livros de Prabhupada a pessoa é impelida a
depender de Krishna para ter sucesso e, por isso, é provável que Krishna se mostre
a ela em certas ocasiões, fazendo com que ela fortaleça cada vez mais sua afinidade
por Krishna, sua capacidade de diagnosticar quando Ele intervir em sua vida, e assim
se torne cada vez mais consciente de Sua personalidade, motivo que a fará ficar cada
vez mais atraída por Sua pessoa. Além do mais, ao distribuir livros a pessoa tem que
aprender a transmitir os ensinamentos de Prabhupada para o público, o que faz com
que ela esteja sempre refletindo e meditando em suas palavras.

Carta de Sankirtana: Quando começou a distribuir livros? Qual sua relação com
o sankirtana ao longo dos anos?
Nityananda Raya Dasa: Comecei a distribuir livros em 2005, com um viageiro
organizado por Candramukha Swami, Caitanya Gosai e outros, que partiu de Belo
Horizonte. Na ocasião foi alugado um ônibus e fomos em direção ao Ashram Vrajabhumi, onde ficamos hospedados. Diariamente, íamos às ruas para distribuir livros nas cidades próximas a Teresópolis/RJ. Quando fui morar na ISKCON de Belo Horizonte em 2007, logo o prabhu Lilamrta Dasa veio residir no templo e reviveu a distribuição de livros a pedido de Param Gati Prabhu. Desde então, estive envolvido com a distribuição mais “intensa” de livros até o ano de 2017, quando retornei ao mercado de trabalho. Atualmente participo da distribuição de livros de maneira mais “discreta”, deixando livros em ônibus, avião e oferecendo para pessoas interessadas em espiritualidade, nos Vedas e na consciência de Krishna com as quais tenho contato.

Carta de Sankirtana: Gostaria de contar-nos alguma história especial que tenha
acontecido enquanto distribuía livros?
Nityananda Raya Dasa: A primeira vez que distribuí livros na vida aconteceu algo
interessante. Estava tentando distribuir livros por horas, sem sucesso algum. Sem muita experiência com a tradição ou a filosofia, eu estava fazendo aquilo por pura convicção de que era a melhor coisa a ser feita naquele momento, e pela inspiração do grupo que estava todo dedicado àquela atividade.
Não acostumado a ficar horas parado num lugar, ao sol, tentando falar com pessoas, a mente não demorou a ficar envolta num tipo de “autossabotagem”, sugerindo
que: “ninguém está interessado nesses assuntos”, “as pessoas estão desconfiadas”;
“você sabe o que está fazendo com esses livros?”; “desista, não tem problema”, etc.

Depois de ficar, literalmente, “horas” nessa situação de conflito e tentativas infrutíferas, apareceu um mendigo (morador de rua) com aparência miserável e começou a ficar perto de onde eu estava. Então minha mente alertou: “agora tem esse mendigo aqui e talvez as pessoas não queiram parar por medo dele”. Depois de um tempo nessa situação, o mendigo se aproximou de mim e perguntou o que eu estava fazendo e, quando eu disse que estava tentando distribuir aqueles livros, ele pediu para ficar com um. Assim, ele juntou uns trocados que tinha e levou o primeiro livro que distribuí em minha vida. Naquele momento eu entendi que Krishna estava querendo me dizer que não cabia a mim decidir quem levaria os livros, eu simplesmente deveria realizar o esforço, da melhor maneira possível, em tentar distribuí-los.

Carta de Sankirtana: O que aconselharia a alguém que quer distribuir livros?
Nityananda Raya Dasa: Eu diria a essa pessoa para, se possível, ler os livros, ter uma relação de apego ao conteúdo deles para, assim, transmitir convicção de que aquilo que se está entregando para a pessoa realmente possui valor, e que se conhece esse valor. Também aconselharia a conhecer as diferentes modalidades em que essa atividade geralmente é realizada e a conversar com pessoas mais experientes para aprender com elas.
Uma coisa que acho relevante é a pessoa entender como a história do Gaudiya-Vaishnavismo está baseada na literatura, desde seu fundamento pelos gosvamis de Vrindavana, passando por sua afirmação com Baladeva Vidyabhusana, seu reavivamento com Bhaktivinoda, sua apresentação ao mundo com Srila Prabhupada, até os dias de hoje. Com isso fica claro o quanto os mestres deram importância fundamental à literatura e como ela vem ajudando a moldar a história da consciência de Krishna no mundo.

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