Era dia de maha-sankirtana. A noite estava começando, e comigo tinha um carrinho com livros, porém estava sem cadeado para prendê-lo e estava longe do templo. Resolvi que voltaria por um táxi de aplicativo e, assim, aproveitaria para tomar prasada e recuperar as energias.

No aplicativo, veio o motorista Pedro Henrique me buscar. Muito simpático, colocou o carrinho no maleiro e iniciamos a viajem. Como de costume, comecei a falar sobre Krishna, e ele ficou muito interessado. Falei sobre os livros, e, logo de início, ele disse que ficaria com o Yoga.

Ele compartilhou comigo que sua mãe havia falecido há poucos dias, mas que estava tranquilo quanto a isso, pois sua mãe sempre dizia que ele e todos os seres eram eternos e que o corpo era passageiro. Disse que sua mãe praticava yoga e que tricotava e lia ao mesmo tempo livros e mais livros.

“Minha mãe devorava livros de espiritualidades. Em uma semana, ela conseguia ler três livros. Lembro que sempre tínhamos blusas de tricô novas. Ela pegava nossas velhas, desmanchava e tricotava de novo – tudo isso lendo e meditando. Estou feliz porque sei que ela foi para o mundo espiritual.”

Falamos sobre isvara, jiva, kala, karma, prakriti, que são os cinco tópicos da Gita, e ele ficou muito interessado. Quando estávamos chegando na rua do templo, ele disse: “Espera, eu conheço esse lugar…”

Eu disse: “É aqui que nós moramos. Temos palestras, jantares gratuitos… Pode parar ali no vazo vermelho.”

Quando ele parou, seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ele sorria alegremente, dizendo:

“Era aqui que eu trazia a minha mãe sempre. O nome dela era Madhavi. Nos últimos tempos, ela chorava com saudades daqui, dizia que queria ver o altar de pertinho, mas o problema de saúde a impedia. Então, ela fazia tudo em casa. Uns amigos dela fizeram uma cerimônia onde tinha fogo e frutas. Vou ficar com os dois livros e, se o valor ficar mais alto que a corrida, te devolvo a diferença.”

Disse para ele que isso tudo fora um arranjo de Krishna para que ele se aproximasse, e ele concordou. Eu fiquei em êxtase, fiquei muito feliz com o passatempo que Krishna tinha feito.  Nos despedimos ali. Ele agradeceu pela viagem e disse que, dali em diante, iria buscar uma vida espiritual.

Bhaktin Mariana, de Itajaí.

Categorias: Passatempos