Caro Sivarama Swami,

Hare Krsna. Por favor aceite minhas humildes reverências. Todas as glórias a Srila Prabhupada.

Espero que não se importe em eu escrever para o senhor. Eu nunca escrevi para um mestre espiritual antes. O senhor não me conhece. Meu nome é Bhaktin Dora e vivo em Pecs, Hungria, com minha mãe e irmã mais velha.

Há alguns anos, fui ao Festival Hare Krishna com uma amiga. Não estava muito interessada, mas gostei do canto e da dança no final. Depois que acabou, comprei um livro, A Ciência da Autorrealização, e nem sei porque, pois não leio muito. Creio que foi por causa do canto.

Levei-o para casa e não lembro o que fiz com ele. Um dia, minha mãe o encontrou e ficou muito brava comigo. Ela pensou que eu estava lendo esse tipo de coisa. Sabe, nossa família era católica estrita. Pensavam que a consciência de Krishna era algum tipo de lavagem cerebral. Na verdade, eu não o estava lendo, havia esquecido dele. De alguma forma, ele apenas “apareceu”. Bem, ela iria jogá-lo fora.

Minha avó, que tem 68 anos, estava na cozinha. Ela vive no andar de cima. Ela entrou e pegou o livro. Olhou para ele e me repreendeu de forma muito dura. Pensei que seria o fim dele e não me importei muito, pois estava muito em maya na época.

Após uma semana, ouvi uma conversa entre as duas. Vovó estava dizendo a ela que aquele não era um livro qualquer. Que o que Prabhupada dizia ali era o que Jesus Cristo também dissera e que Krishna era Deus. Fiquei muito surpresa. Ela disse que deveríamos ouvir o que Prabhupada dizia e cantar Hare Krishna, pois essa é a religião desta era.

Falaram muito sobre como o cristianismo não era mais válido e que ninguém seguia a Bíblia, mas o que Prabhupada falava era puro e perfeito.

As coisas realmente mudaram depois daquilo. Um dia, minha vó visitou o nama-hatta daqui e começou a cantar nas contas. Ela também começou a comprar os livros de Srila Prabhupada, um por um. Estava gastando todo o dinheiro da pensão para comprar o que ela chamava de “meu sagrado e belo Bhagavatam.”

Às vezes, tudo o que ela conseguia comprar eram apenas batatas, mas continuava comprando os livros. Os devotos inclusive vieram ao apartamento dela e a ajudaram a montar um altar. Quando eu fui lá em cima, havia imagens de Krishna por toda parte .

Mas foi apenas o começo. Uma noite, vovó teve um sonho com Srila Prabhupada. Alguma coisa realmente aconteceu com ela depois disso. Não sei o que foi, mas ela ficou muito entusiasta. A partir daí, ela passou a envolver toda a família. Digo, não apenas eu, minha mãe e minha irmã, mas os dois filhos dela, as esposas deles e as seis crianças, bem como os irmãos e irmãs dela e os parentes próximos a estes.

Antes, ela carregava uma Bíblia e citava Jesus. Agora, ela leva uma Bhagavad-gita e cita o “bom senhor Prabhupada.” Ela se tornou um verdadeiro “terror transcendental.” Todos na família tinham que cantar ao menos uma volta por dia. Além disso, vovó fez todos se tornarem vegetarianos, incluindo meu cachorro Sikra, e oferecemos nossa comida para imagens de Prabhupada e do Senhor Caitanya.

Agora eu também estou saindo de maya e cantando e também lendo um pouco. Onde quer que eu vá, na escola, meus amigos me perguntam sobre Krishna, pois sabem que sou uma devota. Toda a família vai ao nama-hatta, todos os dezesseis da família.

Durante a Maratona de Natal, todos nós tentamos distribuir os livros de Prabhupada. Mesmo vovó levou os livros ao mercado e os distribuiu para os vendedores. Todos estão com um pouco de medo dela, pois ela é destemida. Pensam que ela ficou louca, mas ela não liga.

Agora ela está economizando para ir a Budapeste ver as novas Deidades instaladas. Ela ouviu que os Senhores Caitanya e Nityananda “vieram” para a Hungria, e estão sendo adorados lá. Ela disse que quer ver Deus pelo menos uma vez nesta vida.

No Festival Hare Krishna deste ano, o senhor estava palestrando aos convidados após o kirtana. Deve se lembrar de minha avó, pois ela foi até o senhor e sentou-se ao seu lado, fazendo muitas perguntas. No final, quando o senhor se levantou para sair, ela beijou sua mão. Lembra? Eu também quis fazer uma pergunta, mas fiquei tímida. Poderia, por favor, lhe fazer a pergunta agora? Espero que não se importe, Maharaja.

Eu queria saber que tipo de homem Srila Prabhupada era. Ele deve ser tão querido a Krishna por ter espalhado esta mensagem por todo o mundo. O que são esses livros que mudaram tanto minha família? Como é possível que ele consiga falar tão poderosamente através deles? O senhor deve se sentir muito afortunado por ser seu discípulo. Quão grande homem ele é! Às vezes, quando vovó canta em frente a uma imagem de Krishna, ela chora. Como Prabhupada faz aquilo? Eu também quero chorar do mesmo jeito. Vovó sonha com Prabhupada, e às vezes fala com uma foto dele. Apesar de o livro informar que ele já partiu, está ele realmente morto, ou está vivo? O senhor acha que eu poderei encontrá-lo algum dia?

(…) Eu gostaria de ser uma boa devota algum dia e ajudar Prabhupada e o senhor a espalhar a consciência de Krishna. O senhor poderia por gentileza responder minhas perguntas?

Sua serva,
Bhaktin Dora

(Publicado originalmente na Revista Volta ao Supremo)

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